Pesquisas populacionais têm mostrado, nas últimas décadas, um aumento expressivo no consumo de alimentos industrializados (ou produtos alimentícios) e, em contrapartida, redução na aquisição de produtos naturais ou minimamente processados. Este cenário é preocupante, tendo em vista a depleção dos recursos naturais e a perda cada vez maior de nossa biocapacidade para a produção dos produtos industrializados, uma vez que os mesmos demandam uma alta capacidade dos sistemas ecológicos para gerar recursos naturais e absorver o alto volume de lixo gerado.
Assim, a área da natureza necessária para esta produção (do produto alimentício e de suas embalagens) vem aumentando consideravelmente, ao passo que a área de biocapacidade não acompanha este ritmo acelerado, ficando os recursos naturais não renováveis cada vez mais degradados. Adicionalmente, outro agravante é que estes produtos demandam grande fluxo de transporte, pois muitos são produzidos em locais muito distantes dos consumidores finais, aumentando a emissão de gases relacionados ao efeito estufa.
Este alarmante panorama mostra a necessidade de uma alimentação mais sustentável, com requisitos mínimos para a garantia da segurança alimentar, nutricional e ambiental. Para tanto, a FAO recomenda a aplicação de componentes chaves para uma dieta sustentável, envolvendo a acessibilidade aos alimentos, sistemas de cultivo e produção que respeitem a biodiversidade, a cultura e a sazonalidade, que gerem bem-estar, saúde e baixo impacto ambiental, que valorizem o cultivo amigável, a agricultura familiar e os alimentos locais e que o comércio destes alimentos seja justo e com equidade.
Dentro desta perspectiva, a FAO também orienta que as escolhas alimentares devem levar em consideração os impactos ambientais envolvidos na produção do alimento em questão. No relatório Sustainable Diet And Biodiversity, a FAO apresenta a Pirâmide Ambiental, que ilustra o nível de impacto ambiental de cada grupo de alimentos presente na pirâmide alimentar.
Nesta pirâmide fica claro que o consumo de alimentos de origem animal são aqueles que mais demandam recursos naturais não renováveis e que contribuem para maior emissão de gases do efeito estufa, enquanto os alimentos de origem vegetal são aqueles com menor impacto ambiental. Um exemplo de dieta que pode ser considerada sustentável é a Dieta Tradicional Mediterrânea, uma vez que possui biodiversidade e qualidade nutricional de alimentos, bem como variedade de práticas alimentares e técnicas de preparo, tem forte compromisso com a cultura e com as tradições, respeita a natureza humana e a sazonalidade e apresenta impacto ambiental reduzido pelo baixo consumo de produtos de origem animal.
No Brasil, também temos uma rica biodiversidade, a qual não vem sendo valorizada devido ao aumento cada vez maior da produção de monoculturas pelo sistema de agricultura convencional, com a aplicação de agrotóxicos e fertilizantes químicos (o Brasil é considerado o país que mais utiliza estes agroquímicos no mundo). Desta forma, devemos incentivar e valorizar a agricultura familiar, bem como o conhecimento e consumo das Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs), que são espécies comestíveis nativas, ricas nutricionalmente e que se desenvolvem espontaneamente sob diferentes condições ambientais e climáticas, com excelente adaptação ao meio sem utilização de fertilizantes ou agrotóxicos. Isso permite um cultivo simples e pouco exigente, respeitando os conceitos agroecológicos e os conceitos de uma dieta sustentável.
FONTE: vponline
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